Em seu escritório nos Estados Unidos, o Padre Richard Cannuli revive a antiga tradição da elaboração de ícones e mosaicos, ensinada a seus alunos universitários da Universidade de Villanovam, na Pensilvânia.
Em uma entrevista concedida a CNS durante um seminário realizado em Roma, o religioso agostiniano e artista sacro falou sobre o significado espiritual desta antiga arte: "O processo de fazer um ícone é como uma viagem espiritual e uma reflexão sobre a vida cristã", afirmou.
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Padre Richard trabalhando em seu ateliê |
"O ícone é pintado em madeira, que representa a árvore do jardim do paraíso, a Arca de Noé e a madeira da árvore na qual Cristo foi crucificado", explicou.
Os materiais naturais correspondem a uma tradição de séculos que permaneceu inalterada. "É como representar a criação", expôs o artista enquanto umidecia com seu sopro a madeira, "quando Deus exalou a vida sobre Adão, um nome que vem do árabe "adeem", "pele da terra", ou argila.
Sobre esta argila umidecia é estendida a fina lâmina de ouro que se adere ao material. "O ouro representa o Espírito de Deus que entra no ícone", acrescentou o Padre Cannuli, explicando que são necessários 22 passos e muito tempo para completar a obra.
"Uma coisa que se aprende é a paciência. (...) Os estudantes perguntam, "que posso fazer agora?". Normalmente lhes respondo que podem rezar ou ler". O processo não pode ser acelerado e requer esperar que certos materiais sequem apropriadamente. Um ícone pequeno pode requerer umas 40 horas de trabalho distribuídas em 15 dias.
Este ritmo diferente de trabalho permite descobrir seu verdadeiro significado, segundo comentou o Padre Cannuli: "Quando trabalhas com um ícone, há uma comunicação estreita entre tu e o protótipo da imagem que estás pintando". Um mestre inconográfico russo lhe disse que devia orar à pessoa que era retratada (Jesus, a Virgem Maria, um santo) para consultar-lhe todo, desde a cor que se deve usar no quadro até a vocação e a coerência de vida pessoal do artista.
Quando o ícone é terminado, o sacerdote o abençoa e o esfrega com azeite, em uma clara simbologia sacramental: "o confirma, o unge", descreve o Padre Cannuli, comparando este passo à maturidade da fé que deve lograr o católico. Na arte tradicional da elaboração de ícones evitam-se os estilos pessoais e toda forma de notoriedade do artista. O ícone não é firmado e só se escreve sobre ele o nome do santo ou a invocação retratada. "Não tem nada a ver com o pintor individual", afirmou o Padre Cannuli. "É como se você deixasse ir o controle e permitisse que Deus criasse".
O artista tenta servir de instrumento invisível para a obra espiritual. Segundo explicou o religioso agostiniano, o processo usa sempre os mesmos materiais e a mesma técnica. Os modelos nunca são imaginados pelo artista, mas correspondem a réplicas de figuras antigas de grande tradição. Os ícones são venerados, mas não são adorados, esclareceu o Padre Cannuli, e considera-se que atuam como canais da graça de Deus.
Cada pessoa retratada no ícone expõem, sem exceção, uma de suas orelhas de espectador, comentou o sacerdote, simbolizando que "o modelo que está sendo retratado pode escutar tuas orações e levá-las ao Pai". Da mesma forma como um moderno ícone religioso também nos transporta a outro mundo por detrás da imagem. Nas palavras do religioso, o ícone "é uma janela que se abre a eternidade".
O Padre Cannuli ensinou Artes na Universidade de Villanova, Pensilvânia, durante 33 anos, 13 dos quais os dedicou a elaboração tradicional de ícones religiosos. O sacerdote encontra-se atualmente em um ano sabático que tem utilizado para ministrar palestras em várias cidades européias.
Fonte: Gaudium Press